Tite espera jogo do Flamengo contra o Corinthians
Para negociação final com o Flamengo, mas a mágoa no Parque São Jorge é enorme
O treinador, que fracassou com a Seleção Brasileira em duas Copas do Mundo, não teve o sonhado convite para trabalhar na Europa. Virou as costas ao Corinthians por três vezes. E está para ser anunciado pelo Flamengo.
"No ano que vem [2023, no caso], vou me permitir olhar fora das seleções, de outras situações, e ficar com a Dona Rose, que é a minha esposa. Eu não sei quanto tempo ela vai ficar contente com isso [risos]. "Toda equipe brasileira que pensar no Tite como técnico [em 2023], ele não vai treinar. Pode escrever onde quiser, me chamem de mentiroso, sem palavra, do que quiserem. "Não vai ter [Tite em 2023]."
Em agosto de 2022, o então treinador da Seleção Brasileira fez essa garantia, enquanto dava uma entrevista ao podcast Flow Sport Club. Foi essa desculpa que o presidente do Corinthians, Duilio Monteiro Alves, repassou aos conselheiros que exigiam, por três vezes, a presença do treinador no Parque São Jorge.
Na saída do inexperiente Fernando Lázaro, indicado pelo próprio treinador. Na dispensa de Cuca, pressionado pela opinião pública, por conta de uma condenação de estupro. E na demissão sumária de Vanderlei Luxemburgo, que fazia um péssimo trabalho no Corinthians.
Para surpresa de Duilio, na terceira vez que foi atrás de Tite, ele ouviu também que o treinador gaúcho estava acertando sua ida para o Flamengo. Conselheiros foram cobrar Andrés Sanchez, o mentor de Duilio Monteiro Alves. O ex-presidente "salvou" a carreira do técnico ao não mandá-lo embora em 2011, depois do enorme vexame que foi a eliminação do Corinthians da pré-Libertadores, diante do pequeno Tolima, da Colômbia.
O fracasso foi tão grande que encerrou a carreira de Ronaldo Fenômeno e Roberto Carlos no Parque São Jorge. Andrés foi xingado, pressionado, ameaçado mas manteve Tite. Mas não houve reconhecimento agora, em 2023, quando o Corinthians vive uma temporada terrível, péssima. O treinador esperou, com toda a paciência, a sua "proposta dos sonhos". Ele acreditava que assumiria uma grande equipe europeia depois da Copa do Catar.
Só que os clubes não se interessaram pelo técnico brasileiro que fracassou nas Copas do Mundo da Rússia e do Catar. No Brasil, ele jurou que não trabalharia em 2023. Por isso virou as costas sem piedade ao Corinthians, cuja cúpula que o apoiou precisava dele. Mas o seu empresário, Gilmar Veloz, insistiu que repensasse essa postura em relação ao Flamengo. Por ter o melhor elenco da América do Sul. E que será ainda reforçado em 2024. Seria uma "oportunidade de ouro" para qualquer técnico. E a direção do Flamengo oferece um contrato longo, com multa rescisória e, principalmente, com "carta-branca" para Tite escolher quem fica e quem sai na Gávea. E o mais importante: quem vem.
O salário oferecido a Tite foi de R$ 2 milhões. Mais R$ 500 mil para dividir com seus auxiliares, Cléber Xavier, seu filho Matheus, e o preparador físico Fábio Mahseredijan. Tite ganhava R$ 1,6 milhão para treinar a Seleção Brasileira. Mas veio o impasse. Quebrar ou não a sua palavra e assumir o Flamengo? O presidente, Rodolfo Landim, e o vice de futebol, Marcos Braz, o querem neste ano. Ou melhor, já. Para tratar da profunda reformulação que entendem ser necessária na Gávea. Faltam 13 partidas.
O Corinthians que demitiu Luxemburgo procurou Tite, ouviu o terceiro "não" e contratou Mano Menezes, que fracassou na semifinal da Copa Sul-Americana, perdendo para o Fortaleza, além do clássico contra o São Paulo. A postura insistente do Flamengo, logo após a demissão de Jorge Sampaoli, e a perspectiva de ter um time fortíssimo em 2024 convenceram Tite. Só não queria assumir publicamente o clube na véspera do confronto com o Corinthians, clube que proporcionou o maior impulso na sua carreira, não o demitindo em Ibagué, depois da eliminação para o Tolima. E ainda proporcionou a conquista da Libertadores e do Mundial.
O jogo acontece neste sábado, em Itaquera. Tite, se aparecesse como treinador do Flamengo, seria ofendido, humilhado, pela torcida que aprendeu a amá-lo. Por isso, a recusa em tornar o seu "sim" público antes do confronto de hoje. Sabe que seria desmoralizado. Depois do jogo, entra a data Fifa. São 12 dias que separam os confrontos com o Corinthians e com o Cruzeiro, em Belo Horizonte. Dias que Tite pode usar para tirar a radiografia do Flamengo. A direção do Flamengo aposta que a opinião pública esqueceria em questão de dias a promessa feita pelo treinador. Bastaria garantir que se precipitou. E a vida vai seguir.Tite adoraria que a direção flamenguista aceitasse que, nos 12 confrontos restantes, seu auxiliar Cléber Xavier dirigisse a equipe. E que ele só tomasse posse realmente em 2024. Só que não é o que Landim e Braz querem.
A pressão em cima do treinador leva em conta também o fato de que o Flamengo seria um "ótimo clube" para seu filho Matheus se desenvolver como auxiliar, sonhando em virar treinador no futuro. Até o jogador que o desafiou publicamente, Gabigol, não seria problema. Ele vive seu pior momento na Gávea, reserva absoluto de Pedro. A expectativa da torcida do Flamengo, desiludida com 2023, não é com o confronto com o Corinthians. Mas com o que acontecerá depois do jogo. O desejo é que aconteça o comunicado da direção, com vitória, empate ou derrota, de que Tite assumirá o clube. Há enorme possibilidade de acontecer. Mas ninguém na direção flamenguista ousa garantir. O "sim" precisa ser dado por Tite.
E ainda não há nada assinado. Só mais do que encaminhado. Mas se ele pensa que só não enfrentando o Corinthians estará perdoado pela direção, Tite está muito enganado. A mágoa é grande no Parque São Jorge. Quando ele mais precisou, o Corinthians o apoiou. Agora, no pior momento, Tite despreza o clube paulista. E se prepara para trabalhar na Gávea.